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17.Nov - Construindo a Paz (Mensagem de fim de ano)
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Construindo a Paz (Mensagem de fim de ano)

Guerras, contendas intermináveis, dissolução de famílias, crimes hediondos, atos terroristas, poluição ambiental, corrupção generalizada, violência urbana, abortos, profanação de fetos, etc. Estes, entre outros, são sinais externos da ausência de paz no coração dos homens e das mulheres!


Porém, a paz não é somente uma aspiração humana; ela é a vontade divina para Suas criaturas. Deus não nos criou, para que vivêssemos eternamente em guerra, disputando espaços, territórios, riquezas, prestígio e poder, fazendo desta terra um eterno caos, como nos alerta o profeta:


“Eis o que diz o Senhor que criou os céus, Ele, o único Deus que formou a terra e a estabilizou: que não a criou para que seja um caos, mas a organizou para que nela se viva”. Is 45, 18 .


Verdadeiramente, Deus não criou a terra e a constituiu de homens e mulheres, dos reinos animal, vegetal e mineral e de todos os demais elementos cósmicos, para que a transformássemos neste caos que hoje vivemos...


Deus a criou, com tudo o que nela existe, para que todos possam viver, crescer e morrer, naturalmente, em seus perfeitos ciclos evolutivos. Por isso o profeta ressalta para que nela se viva! A vida, em sua exuberância e plenitude, seria, em síntese, o maior sinal da presença da paz no meio de nós!


O anúncio da presença de Deus no meio de nós foi um prenúncio de Paz! Esta foi a mensagem dos anjos na noite do nascimento de Jesus: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”. Lc 2,14.


Deus nos enviou o Seu Filho para nos trazer a Paz. Todavia, se nos atermos ao texto: aos homens de boa vontade, entenderemos que a paz, mesmo sendo um desígnio de Deus, não dispensa a aquiescência humana; por isso ela é dirigida aos homens de boa vontade. Mas será que sabemos o que significa, dentro deste contexto, homens de boa vontade?


Ora, a vontade é uma das características humanas que nos faz criaturas à semelhança divina. Dos seres criados por Deus, os homens e as mulheres foram os únicos a receberem d Ele a liberdade para agir por conta de suas vontades, diferentemente dos animais que são guiados por seus instintos!


Agir por vontade própria (e não somente por instintos, como os animais) é fruto da razão que nos foi legada gratuitamente por Deus. Assim, a vontade é algo que depende exclusivamente do desígnio do homem, o que lhe confere a liberdade, o maior dos dons que recebemos de Deus!


É esta liberdade, que Deus voluntariamente nos legou, que nos permite conduzir nossa vontade na direção que arbitrariamente escolhermos, podendo ser para o bem ou para o mal, como nos relata o livro do Eclesiástico:


“No princípio Deus criou o homem e o entregou ao seu próprio juízo, deu-lhe ainda os mandamentos e os preceitos. Se quiseres guardar os mandamentos e praticar sempre fielmente o que é agradável a Deus, eles te guardarão. Ele pôs diante de ti a água e o fogo: estende a mão para aquilo que desejares. A vida e a morte, o bem e o mal estão diante do homem: o que ele escolher , isso lhe será dado”. Eclo 15, 14 – 18.


Logo, retomando a nossa reflexão, boa vontade significa uma intenção voluntária na direção do bem, ou seja, uma determinação consciente para conduzir as circunstâncias na direção daquilo que nos orientam os mandamentos e preceitos escritos por Deus e contidos em Sua Palavra.


Assim, os homens de boa vontade, mencionados na mensagem dos anjos que anunciaram o nascimento de Jesus, são todas as pessoas propensas a construírem a paz, valendo-se se das orientações que Deus nos legou em sua Palavra e pelo exemplo de Seu filho Jesus. Mas o que é a paz?


O mundo, muitas vezes, nos sugere que paz é a ausência de guerras e conflitos entre os povos; outras vezes, a secularização que predomina no mundo, nos apresenta como um ideal de paz a ausência de problemas e tribulações pessoais ou ainda uma estabilidade econômica e financeira.


Diante destes “conceitos de paz”, alguns buscam alcançá-la pelo acúmulo de bens, pela omissão diante de conflitos e até mesmo pela guerra, acreditando estar praticando o bem. Se olharmos para os conflitos na Palestina veremos os dois lados, ao longo dos milênios, evocando Deus para se matarem, em nome da paz almejada para sua nação.


Desculpem, mas Paz, na concepção divina, não é isso!


Jesus nos alertou que há uma diferença entre a paz “concebida” pelo mundo e a paz que vem de Deus, da qual Ele é portador, ao dizer: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá”. Jo 14,27.


Sim, porque a paz não é algo estático, estanque ou delimitado a uma só instância, como nos propõe o mundo. Não! Se quisermos que a humanidade viva na paz em plenitude, precisamos cultivar a paz tridimensional, ou seja, em três direções: a paz ascendente (na direção de Deus), a paz fraterna (na direção do próximo) e a paz interior (na direção da nossa consciência).


Esta orientação se fundamenta nos mandamentos da Lei de Deus, confirmada por Jesus, ao ser indagado por um doutor da lei que, para po-Lo a prova, perguntou-Lhe qual o maior mandamento. Jesus respondeu: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” concluindo: “Nestes dois mandamentos se reúnem toda a lei e os profetas”. Mt 22,40.


Ora, amigas e amigos, está aí, na fórmula apontada por Jesus - como a síntese de todos os ensinamentos das escrituras e orientações dos profetas que O antecederam - a paz tridimensional: Amar a Deus (paz ascendente), amar ao próximo (paz fraterna) e amar-se a si mesmo (paz interior).


A paz ascendente (paz com Deus) alcançamos por meio de nossa vida espiritual: seguindo os Mandamentos e as Sagradas Escrituras. Agindo assim, a paz ascendente se instalará, naturalmente, em nossos corações, como nos assegura a Palavra de Deus: “Grande paz tem aqueles que amam a vossa lei: não há para eles nada que os perturbe”. Sl 118, 165.


Da mesma forma que, pelo exercício da oração, fortaleceremos esta paz, na confiança em Deus que desenvolvemos em nossos corações: “Espera no Senhor, e faze o bem; habitarás na terra em plena segurança”. Sl 36, 3.


Podemos enfim sedimentar esta paz com Deus, pela participação nas celebrações e pela recepção dos Sacramentos da Igreja, particularmente os da confissão e eucaristia, pois assim se expressou Jesus: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. Jo 6, 56.


Ora, a permanência de Jesus em nós é certeza da presença da paz que vem do alto, pois Ele nos traz a Sua Paz. Paz que Ele nos assegurou, ao afirmar: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize”. Jo 14, 27.


A Paz ascendente nos prepara para a paz interior (paz consigo mesmo).


A Paz interior - imprescindível antes de irmos ao encontro da paz com os irmãos - se dá por meio do equilíbrio do ser e do ter em nossas consciências, ou seja, devemos verificar aquilo que realmente somos (como pessoas) e temos (em bens, dons, virtudes e talentos) e aquilo que desejaríamos ser e ter, criando um projeto pessoal de vida, visando alcançar este objetivo desejado.


Para tanto precisamos, antes, identificar quais são os nossos limites (intransponíveis por natureza ou por nossas limitações físicas) e as nossas fraquezas (que precisam ser vencidas ou corrigidas). A paz interior se desenvolverá pela aceitação e compreensão das limitações - o que por nossa natureza física e emocional não podemos transpor - mas, ao mesmo tempo, pela superação de nossas fraquezas e vícios, que em nós precisamos superar.


O discernimento de saber onde termina um e começa o outro é um indício de paz interior. É por este discernimento que encontraremos o equilíbrio no âmago de nossos corações, onde nos deixamos envolver por sentimentos de remorsos, rancores, inquietações e medo, nos acarretando tristezas, amarguras e decepções que, espantando a nossa alegria interior, desencadeiam em nós atitudes de ira, frustrações e de inveja.


“Não entregues tua alma a tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos. A alegria do coração é a vida do homem e um inesgotável tesouro de santidade. A alegria do homem torna mais longa a sua vida. Afasta a tristeza para longe de ti, pois a tristeza matou a muitos e não há nela utilidade alguma. A inveja e a ira abreviam os dias e a inquietação acarreta a velhice antes do tempo”, Eclo 30, 22 – 17 .


As constantes inquietações que ativam os nossos pensamentos nos envelhecem precocemente, criando em nós intermináveis preocupações, nos roubando a paz e nos afastando de Deus e de nossas orações.


Ouçamos o que nos diz a Palavra de Deus: “Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus que excede toda a inteligência, haverá de guardar os vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus”. Fil 4, 6-7.


Com a paz ascendente e a paz interior implantadas, estaremos prontos para desenvolver a paz fraterna (paz com os nossos irmãos) que evoluirá em nossos corações a partir do exercício de nossos dons e virtudes pessoais, ou seja, da nossa solidariedade, da nossa caridade, da nossa capacidade de amar e perdoar as pessoas que nos ofenderam e de tantas outras atitudes que dependem exclusivamente de nossa vontade para frutificar em nossas famílias, comunidade e em toda a sociedade.


A Palavra de Deus, novamente, nos sugere gestos concretos e imprescindíveis para que esta paz seja estabelecida: “Revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, de humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós. Mas, acima de tudo, revesti-vos do amor que é o vínculo da perfeição. Triunfe em vossos corações a paz de Cristo, para a qual fostes chamados a fim de formar um só corpo”. Cl 3, 12 – 15.


Aproveitando a passagem do ano façamos, criteriosamente, um balanço de nossas vidas, verificando em nossos corações, a existência, a extensão e o equilíbrio destas três vertentes da paz: com Deus, consigo mesmo e com o próximo. Nesta última, procurando compreender e aceitar suas diferentes maneiras de pensar e de agir, em determinadas circunstâncias.


É do perfeito equilíbrio e interação destas três forças que o Reino de Deus se instalará no meio dos homens, por meio do “corpo de Cristo” que é a nossa Igreja que, no primeiro dia do ano, nos propõe a Festa da Paz, pedindo que, ao mesmo tempo em que a clamamos sobre a terra, nos empenhemos em construí-la, passo a passo, a partir de nós mesmos.


No limiar de um novo ano quando todos nós, independente de raças, crenças e religiões, renovamos a nossa esperança de tempos melhores, quero, de coração, desejar a você, que tem sido uma pessoa leal ao longo desta nossa amizade, os mais sinceros votos desta verdadeira paz que juntos construiremos neste ano que se inicia.


Fonte: Antonio Miguel Kater Filho

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